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Renato Loureiro: da administração ao mundo da moda, ele marcou várias gerações e inspirou muitas criações.

Fim de ano faz ecoar no ar o espírito de recordar e reviver momentos que marcaram, inspiraram e mudaram nossa visão sobre a vida, não é mesmo? Pensando nisso, nós da Versi Têxtil, escolhemos presentear vocês com uma entrevista exclusiva com um dos maiores nomes da Moda mineira e que sempre nos encantou muito com seu trabalho e envolvimento. Renato Loureiro é um dos profissionais mais importantes do mercado de moda local e se notabilizou, nacionalmente, por suas criações únicas e seus belos desfiles na SPFW. Seu DNA como designer foi altamente consolidado através das inovadoras propostas de mix de texturas, materiais e referências estéticas que o estilista começou a trazer nas suas coleções. O tricot, a influência do japonismo e o apelo artesanal, sempre fizeram parte da construção de sua forte identidade no mundo da moda.

Exposição Museu da Moda - Belo Horizonte No final da década de 1970, atuava como gerente administrativo da L' Oreal, em Belo Horizonte, e também empreendia na Pitti, loja que manteve em sociedade com a irmã por vários anos. Nesse período, seu olhar apurado já tinha uma atenção especial para as pessoas que se arriscavam timidamente no mercado belo-horizontino, abastecendo sua loja com produção local. O sucesso do empreendimento e o lançamento da marca própria - Pitti nessa época - fizeram com que o estilista abandonasse o cargo administrativo para se dedicar exclusivamente às suas criações.


Desde então, nunca mais viveu sem respirar moda. Renato Loureiro foi um dos principais articuladores do Grupo Mineiro de Moda, que surgiu nos anos 1980 em uma união de dez marcas locais que acreditaram no associativismo. Entusiasta e com vocação para a liderança, teve papel primordial na associação e foi uma espécie de lenda que marcou o universo fashion brasileiro, inspirando novos criadores até os dias de hoje.


Renato Loureiro, curador da mostra, no final de um de seus desfiles nos anos 1990 / Desfile no Palácio das Artes, nos anos 1980 / Integrantes do Grupo, no Cine Usina, celebração dos 10 anos do grupo.

Para imergir mais profundamente na vida, experiências e histórias de Renato Loureiro, fomos até seu charmoso e aconchegante apartamento em Belo Horizonte para entrevistá-lo e trazer para vocês todas as curiosidades desta rica trajetória.

Como está sendo sua vivência como vice-presidente da ACRIEM (Associação dos Criadores e Estilistas de Minas Gerais? Os encontros e curadoria que venho fazendo através da associação me reaproximam da moda mineira e isso me enche o coração que vive pela moda né? (risos). A visibilidade do projeto aumentou muito a partir da parceria com o Minas Trend que proporcionou desfiles de abertura do evento nos dois últimos semestres. Os desfiles apresentam os estilistas locais e suas criações em lugares que marcam a cena cultural da cidade. O primeiro evento ocupou o Palácio da Liberdade, em abril deste ano e o segundo ocorreu no Palácio das Artes, durante o mês de outubro.

"Eu sou da moda, gosto da moda e ajudo quem é da moda. Essa é minha política" - afirma Renato Loureiro ao pontuar a importância da união das pessoas da área, afim de conquistar mais espaço e programas de apoio financeiro para produtores locais de moda em geral.

Fonte: FFW / Desfile Renato Loureiro Verão 2023 - SPFW

Em entrevista, o estilista mineiro conta que ao longo de sua carreira criou apenas para sua própria marca e que uma das experiências mais desafiadoras foi prestar consultoria de estilo para outras marcas, através do projeto de curadoria que o Minas Trend Preview fez em sua primeira edição.

Relatos dos desafios enfrentados em sua primeira experiência em consultoria de criação. A primeira vez que eu cheguei para consultoria em uma dessas marcas, no interior do estado, me deparei com a entrada que era a metade disso aqui - fazendo comparação à sala do seu apartamento. Quando cheguei na fábrica… Eu pensei: como vou colocar essa marca no Minas Trend? - completou contando que a empresa não tinha organização e boa infraestrutura para estar em uma semana de moda que fala sobre tendências, o que está antes da moda, o que está por vir.

Eu peguei a espinha dorsal da marca para que, a partir da identificação dos produtos que vendiam bem e dos que não vendiam, poderíamos ter um ponto de partida para a criação de uma nova coleção. Meu processo nessa consultoria baseou de forma geral em fazer coisas que eu mesmo nunca fiz para a minha marca, reuni meus dois assistentes da época e assisti a todos os desfiles internacionais, analisando tendência por tendência e abordagens diferentes de representá-las. Fiz um compacto destas informações, levei até cada marca e disse: “Vou te mostrar o que está acontecendo na Moda, no mundo inteiro! Agora, vocês precisam me dizer o que vocês gostam e vamos selecionando caminhos para seguir com a criação da sua coleção.” Já que até então essas marcas nem tinham nenhum processo de planejamento de coleção. Levei luz para o processo criativo de muitas marcas, foi um processo bem interessante e o resultado foi um sucesso, apesar da maioria das donas das marcas criarem muito empecilhos nas mudanças sugeridas.

Você associaria a Moda com a Arte? A moda, para além de tudo, é uma manifestação. Pode não ser considerada arte, mas com certeza pode-se ser entendida como um aspecto cultural comportamental de uma sociedade ou mesmo de um grupo de pessoas. Pode até existir alguma associação, mas não acho que são as mesmas coisas. Acho que essa relação é como de fosse um casamento desses que não é tudo que a mulher pode fazer, porque o marido proíbe, sabe? (risos) A indústria da arte/cultura se vê acima de tudo e sempre coloca a moda em lugar inferior e minha luta durante todos esses anos foi para garantir o espaço da moda na mesma proporção que a arte ocupa. É claro que a moda tem um propósito bem diferente, que é a funcionalidade, vestir um corpo... Mas de certo modo, ambas tem outro mesmo propósito que é, expressar o comportamento de um sociedade, ou até mesmo de uma geração. Qual sua expectativa para o futuro da Moda em Minas Gerais? O que eu sonho em Minas é a volta do espírito de integração e incentivo que o Grupo Mineiro de Moda trazia para as marcas que estruturam a indústria da moda no estado. Você acha que a ACRIEM veio como uma solução de futuro para a indústria mineira de Moda? A ideia poderia ser essa, mas como dependemos sempre de patrocinador, acaba podando os processos e colocando alguns limites. No Grupo de Moda Mineiro era diferente, a gente tinha a vantagem de fazer absolutamente tudo como a gente queria, pois a maior parte de dinheiro que era investido na estrutura dos eventos/desfiles era investimento dos estilistas envolvidos. Tínhamos alguns patrocínios pontuais, às vezes de tecido, às vezes de produtos ou até mesmo serviços de coquetel, por exemplo, mas o dinheiro para fazer que tudo acontecesse na grandiosidade que acontecia, nós que pagávamos do nosso bolso.

Desfile de Renato Loureiro durante o SPFW – Inverno 2005. Foto : Maria Valentino / Agência Fotosite


Algumas marcas atuais, sem muito posicionamento de mercado, costumam usar o termo “atemporal” para referir aos seus produtos, o que você acha desse termo? Não acho que tem jeito de ser usado, as tendências e o desejo de consumo estão mudando a cada segundo, hoje em dia é impossível determinar algo como atemporal, criar um conceito totalmente aleatório da cabeça e fazer com que essa ideia seja vendida sem seguir um certo tipo de padrão do que as pessoas esperam. Eu digo que hoje a moda é como uma “geleca”, cada hora ela vira pra um lado ou fica em um formato diferente e você tem que dar um jeito de acompanhar esses formatos.


Sabemos que um dos seus maiores diferenciais como estilista são as variadas técnicas e misturas de materiais que sempre criaram uma vasta riqueza estética nas peças que você criava. Qual dica você daria para iniciar e ter uma boa imersão nesse processo de criação? Eu tenho uma ótima história, que resume bem a resposta dessa pergunta! Foi quando inventei de fazer um tricot com fio de juta, foi uma criação inédita que me lançou no mercado internacional, vendi para países como Alemanha, Estados Unidos e outros. O que mais me incomodava na hora de criar uma coleção, era ficar preso demais às possibilidades limitadas que tínhamos de tecido, por isso eu gostava de brincar com a criação através da mistura de fios na confecção de tricots. Foi nessa que um dia estava em uma feira que tinha de moda em SP, e estava acompanhando a Mabel (estilista mineira) nas compras de tecidos. Eu reparei no vitrinismo da loja uns fios com uma textura muito interessante que parecia linho e resolvi perguntar pro moço da loja do que era feito os fios e ele disse: fio de juta. Aí pronto! Coloquei na cabeça que eu queria tramar alguma coisa com esse bendito fio de juta e depois que eu cismo, não há nada que tire da minha cabeça. Foram dois meses quebrando agulha de máquina, lavando tecido, costurava não dava certo, tecia e ficava tudo torto, a textura não me agradava, não achávamos acabamentos ideal e por vários momentos achei que não fosse ter jeito, mas nunca pensei em desistir. Até que tive a ideia de mudar a ordem do processo de construção da peça, deixando o tecido descansar por horas antes do corte e foi quando deu certo, foi um estouro! Eu lancei e todo mundo foi à loucura, nem eu imaginei que o alcance seria do jeito que foi. Então minha dica é assumir seus instintos, não desistir do que você acredita e sempre imergir ao máximo no processo de criação.


Registros da parceria do Renato Loureiro com a COPABELIS – Cooperativa das Bordadeiras Lili Escórcio


Qual a dica que você daria para quem se preocupa em deixar um legado no mundo e inspirar tanta gente assim como você? A maneira muito séria que eu levo essa coisa de moda, é uma coisa que retem muita energia, passa pela mão de muitas pessoas e levar isso a sério traz outro sentido para todo o processo. Foco também é muito importante, mas o que não pode faltar nunca é o amor, pelo o que você faz, pelo o que você acredita e pelas pessoas que estão nessa construção com você. O amor é o que conduz tudo, é o que faz você não desistir mesmo diante a maior dificuldade. O tratamento das pessoas também é essencial! Nós não estamos sozinhos nesse mundo, temos que olhar o colega de trabalho e não tratar com rivalidade, cada um está traçando seu caminho e tem espaço pra todo mundo. Sempre fui muito cuidadoso com essas questões e sempre tive muito carinho por quem trabalhou comigo, sem dúvida isso contribuiu para todas as conquistas que fizemos juntos e para o legado que deixei na moda.

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