top of page

Feito à mão nordestino é destaque nas passarelas do Brasil

Já reparou como o trabalho manual anda valorizado no Brasil? Basta olhar para os lados e constatar que pontos de crochê, linha, tricô e a vasta gama de rendas do país estão nas roupas e nos acessórios de muita gente - de fashionistas a leigos no assunto. Agora, já parou para perceber que parte importante dos criadores desse tipo de moda genuinamente brasileira tem endereço, plataforma de desfiles e o interesse crescente da cultura internacional?

Foto: Ateliê Mão de Mãe, divulgação.


O Festival Dragão Fashion Brasil, que aconteceu no final de maio na Praia de Iracema, um dos cartões-postais de Fortaleza (CE), é a própria ideia de cultura popular aplicada à moda encontram na produção do Nordeste uma de suas maiores potências de novidades. Não que a utilização dos traços da cultura nordestina não permeasse há muito tempo a criação de roupas, mas, finalmente, eles hoje chegam às vitrines sem aquela pecha de artesanato que desconectava o desejo dos saberes manuais.


Duas das marcas que estrearam na SPFW N53 são nordestinas. A baiana Dendezeiro, uma das mais festejadas da nova geração, traduziu as cores e elementos do tabuleiro de Acarajé numa coleção carregada de referências às religiões de matriz africana. Martha Medeiros, por sua vez, mostrou as várias possibilidades das rendas que compõem a paisagem de sua Alagoas natal e as araras de sua marca homônima, que já cruzou as fronteiras de diversos países.


O bilro, um tipo de renda que usa diversos cruzamentos de linha, foi o motor dessa coleção que explora efeitos ópticos por meio dos desenhos. É preciso olhar de perto cada trama para perceber que as texturas tratam, na verdade, do tecido manual costurado à mão.

Foto: Marca Marina Bitú, divulgação.


A passarela do DFB também abriu as portas para Marina Bitú, que mostrou um trabalho precioso de plissados apoiado em crochê com precisão matemática. Vestidos que abrem como sanfonas, a referência básica do repertório da coleção, se estruturam com geometria e um senso de elegância ensolarada se desenrolam nos conjuntos mais leves de alfaiataria.


A mescla de elementos da chamada "artesania local" com técnicas de modelagem usadas em favor de um guarda-roupa prático resume a fórmula que torna possível ao consumidor encarar suas raízes sem medo de parecer antiquado. Um desajuste que é fruto do preconceito ainda enraizado no país.


Por isso, também é preciso olhar como a coleção de David Lee amadurece as questões sobre a beleza da textura manual brasileira e como suas roupas tratam diretamente as nuances da produção cultural. Em parceria com o artista Narcelio Grud, ele transformou em estampas as obras cujas linhas e a engenharia remetem à arte cinética. As roupas recebem o acabamento da alfaiataria reconhecível de Lee com toques texturizados do crochê, a matéria-prima básica do repertório do designer. A cartela em tons de laranja remete ao nascer do sol, uma imagem icônica do horizonte cearense e pedra fundamental do olhar ensolarado do estilista para as cores de sua cidade.

Foto: Marca David Lee


Tratar da moda cearense é entender que a iconografia natural de Fortaleza mistura a orla azul-esverdeada, a areia e o sol, bem como as regiões afastadas do centro urbano, com suas paisagens semiáridas.


Fonte: Elle

168 visualizações0 comentário

Kommentare


Moda de rua

Não quer perder nenhuma postagem?

Deixe seu e-mail aqui!

© 2018 by Jade Britto

bottom of page