O Versi Têxtil entrevistou três profissionais da moda que, a partir do setor educacional, conseguem prever os novos rumos do mercado.

Prever os novos passos do mercado da moda e suas tendências não parece algo difícil de descobrir, mas só quem lida com os futuros profissionais da área é capaz de acertar com precisão. O Versi Têxtil entrevistou três profissionais, mulheres, professoras de Design de Moda, experientes no mercado fashion, e a conclusão não poderia ser diferente, o consumidor do futuro espera das novas marcas consciência na produção e sustentabilidade!
Clarisse Braga é professora do Design de Moda no Senai Modatec (Belo Horizonte/MG) e empreendedora no setor feminino de vestuário da marca RG (Registro Geral). Quando questionada sobre quais os maiores desafios no setor educacional da Moda, Clarisse explica que os alunos focam na criação mas acabam não visando a produção, o setor financeiro e a complexidade de se desenvolver uma coleção a partir do que foi criado.
De acordo com o posicionamento de seus alunos, Clarisse diz que vê o futuro mercado voltado para a sustentabilidade. “Vejo o mercado mais voltado para a sustentabilidade, tanto no financeiro, quanto no social e ecológico. Não acredito que teremos no Brasil grandes empresas de moda, o governo não incentiva a produção interna no país e o desenvolvimento de novas tecnologias, basicamente importamos toda a matéria prima como tecidos e aviamentos. Portanto, acredito que teremos pequenas empresas, brechós, etc. É o momento de saber um pouco de tudo e vender o conceito, a ideia de sustentabilidade, o que afinal é muito bom, pois possibilita a criatividade! Os alunos já se movimentam para isso”.
Quando questionamos qual o perfil do novo consumidor de moda, a resposta é clara, “Acredito que estilo. O acesso a moda permitiu cada indivíduo reconhecer seu estilo de moda, de se vestir, com propriedade. Os jovens ainda tentam copiar seus ídolos musicais e suas referências ideológicas. Com maior acesso a todo tipo de roupa (barata ou cara), o jovem consegue se expressar com propriedade”.

Cristiane Victer, mestre em Desenvolvimento Regional pela Fundação Educacional de Divinópolis, é professora do Curso Técnico em Produção de Moda do CEFET (MG) e possui um canal no Youtube sobre desenho de moda. A designer acredita que o maior desafio que encontra nos seus alunos é convencê-los a driblar a crise e encontrar na dificuldade as possibilidades através do poder criativo.
Sobre o mercado futuro da moda, Cris Victer aposta no uso de novas tecnologias, na sustentabilidade e nos processos colaborativos de produção conjunta. “Os novos consumidores de moda buscam por produtos que seguem a linha socialmente corretos. Preocupados em não demandar mão de obra escrava para realização do produto, o público espera que as marcas sejam minimamente sustentáveis e possam transmitir experiências para seu consumidor. Essa nova geração quer muito mais que um produto ou uma marca”.

Tereza Leão, nossa última entrevistada, é artista plástica, mestre em Estudos Culturais Contemporâneos e professora de Design de Moda na Universidade FUMEC (Belo Horizonte/MG).
Quando questionada sobre as dificuldades enfrentadas pelos alunos em sala de aula, Tereza diz “O maior desafio é mostrar para o aluno que ‘fazer moda’ vai muito além dos pouquíssimos minutos de glória sobre a passarela. É um trabalho árduo, de total entrega, dedicação, pesquisa, muita leitura, experimentações, noites sem dormir, ‘chão de fábrica’. O trabalho é pesado e muitas vezes o designer só fica nos bastidores e quase sempre no anonimato. Assim, o glamour e os aplausos são para a marca, ou para o dono dela, raramente para quem suou e batalhou para que tudo acontecesse na mais perfeita ordem”.
A artista demonstra preocupação quanto ao futuro do mercado fashion, cita que se os alunos não se posicionarem na criação de uma marca com posicionamento sustentável, ético, social e político, serão engolidos pelo sistema saturado de produção em série. “O futuro será de quem inovar e estiver com o pensamento no planeta, uma forma de ajudá-lo, seja através do consumo consciente onde o menos é mais ou reinventado, customizando e solucionando o descarte textil de uma outra forma”.
Para finalizar, Tereza apoia o consumo consciente e a valorização das referências reais como a nossa cultura local, regional, diretas, criações atemporais e agêneras. “Creio que hoje conta muito mais a experiência de vestir uma determinada roupa do que o produto em si! O consumidor se sente mais ‘autor’ do seu produto e as marcas buscam essa integração entre produto e público alvo. Sempre com um pensamento sustentável, todo lixo pode virar luxo!!”.
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