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Chita, um tecido quase brasileiro


Cores primárias em contraste formando estampas normalmente compostas por flores, plantas e outras expressões da natureza característica do clima tropical; a chita, chitinha ou chitão se tornou um símbolo da tropicalidade brasileira entre os tecidos, figura carimbada em festividades como as festas de São João. Se hoje ela é encontrada a um preço baixo em qualquer casa de aviamentos, há cerca de meio milênio era tão valiosa quanto as especiarias vindas da Ásia.


De acordo com a professora de tecnologia têxtil do curso de Design de Moda da faculdade Boa Viagem (FBV), Débora Pontes, a trajetória da chita teve início no século 15, na Índia. A viagem do tecido foi iniciada por meio da Companhia da Índias Orientais, que importava o tecido, juntamente com especiarias como cravo, canela e pimenta.


A chita foi bastante apreciada em solo europeu por conta da qualidade da fixação da estampa no tecido. Essa fixação era possível por meio de um extrato vegetal chamado mordente, que permitia a elaboração dos desenhos da estampa sem que as cores se misturassem no momento do tingimento, da lavagem ou no secamento dos tecidos. “Nesse processo de fixação também era utilizada a urina, tanto animal, quanto humana, que promovia um processo de fermentação, gerando uma boa fixação da tinta ao tecido”, relata.

“Na Europa, a chita era bastante utilizada com estampas distintas, diferente das que costumamos ver. Normalmente eram flores pequenas e cores claras, muito utilizadas por famílias da classe média”, acrescenta a professora do Departamento de Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Andréa Costa.


Com o passar do tempo, entre os séculos 17 e 18, os países europeus iniciaram um processo de apropriação da chita. “Em meio a revolução industrial, o tecido passou a ser reproduzido em qualidade superior”, explica Débora. Ainda de acordo com ela, Portugal foi um dos últimos países europeus a se apropriar do processo de fabricação da chita, que culminou com a chegada dela ao Brasil.

Foto: Placa de impressão com estampa floral, da indústria Cedro & Cachoeira.


No Brasil, a produção de tecidos se instalou principalmente em Minas Gerais, com a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira, final do século 19. Por aqui, assim como na Europa, ocorreram medidas que visavam a proteção do mercado. Dona Maria I, conhecida como “Maria, a louca”, proibiu a produção do tecido em solo colonial para que não houvesse conflito com o tecido produzido em Portugal e exportado ao Brasil.


Em Pernambuco, explica Andréa Costa, a indústria têxtil passou um período restrita a produção de sacos para o armazenamento de alimentos como café e açúcar. A produção de tecidos para vestimentas passou a ser realizada como objetivo secundário. “A chita fabricada era normalmente roupa de escravos ou para as crianças brincarem”, afirma Débora Pontes.

A popularização da chita persistiu até a década de 1950, quando enfrentou o ostracismo e recuperou sua característica de identidade brasileira apenas na década de 1970. “Em um desfile realizado por Zuzu Angel, em Nova York, ela deu para as esposas dos embaixadores roupas feitas de chita, com o significado de algo que pertencia à identidade brasileira”, acrescenta. Desde então, o tecido nunca sumiu completamente da produção do país. “Atualmente, ela tem sido utilizada mais na decoração, em poltronas, cortinas e papel de parede. Nas roupas, até por conta do caimento, tem ocorrido a apropriação da estampa em tecidos mais nobres”, completa.


Fonte: João Vitor Pascoal

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