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Jornalismo de moda como vitrine do tempo


A moda, desde a sua origem, ocupa um espaço significativo no ambiente cultural, auxiliando a composição das aparências, influenciando comportamentos, a maneira de lidar com o próprio corpo e com a sociedade. Isso está relacionado ao quanto essa ferramenta oferece ao indivíduo a possibilidade da expressão de traços da sua personalidade, identidade, cultura e estilo. Por isso, reconhecemos a moda enquanto um fenômeno que estrutura a vida social de maneira inseparável dos processos de comunicação.


Mesmo sendo considerado, muitas vezes, um assunto de exclusividade estética, a moda traduz fatos históricos que impactam não só a economia, mas também a política, geografia, costumes e o avanço da sociedade. Revistas e os jornais impressos foram uma das primeiras ferramentas midiáticas a divulgarem informações de moda através de propagandas e campanhas de prêt-à-porter, além de tutoriais para penteados e produtos de beleza.


Para falar sobre o assunto, convidamos a jornalista de moda Lívia Rigueira para apresentar seu projeto de pesquisa, que teve como tema: "Jornalismo, Memória e História Cultural da Moda nas Capas da Vogue Brasil". Lívia é natural de Belo Horizonte (MG), concluiu seu curso de jornalismo pela PUC Minas e hoje atua no setor de comunicação e marketing da indústria Cedro Textil.

Foto: Lívia Rigueira, acervo.


Como surgiu o seu interesse pelo jornalismo dentro da área de moda?

Minha irmã é formada em moda e sempre foi a minha maior inspiração de mulher e de profissional. Sempre fomos muito apegadas, desde pequenininhas. Por isso, acompanhei de perto a evolução e crescimento da minha irmã nesse universo, que me conquistou e me cativou rapidamente. Já a escolha pelo jornalismo se deu pelo meu amor pela escrita. Sempre gostei muito de escrever, de me comunicar, de me expressar através das palavras. Então tive certeza que essa profissão era para mim.


De onde partiu a escolha do tema?

Revistas de moda sempre me fascinaram muito. É muito interessante você pensar que esse meio de comunicação não passa só informação, mas também representa contextos e períodos históricos. Através dos veículos impressos conseguimos compreender costumes, valores e pensamentos de cada época. No caso as capas são ainda mais fascinantes, pois são elas consideradas 'vitrines' das revistas, ou seja, são responsáveis por chamar a atenção e seduzir os leitores/consumidores. A escolha pela Vogue se deu pela sua história e capacidade de transformar o jornalismo de moda brasileiro.


Como se deu o processo de desenvolvimento da sua pesquisa?

Após a definição do tema, foram discutidos conceitos como: jornalismo de revista, gênero capa de revista e moda como ferramenta cultural, política e econômica. E após o levantamento dessas informações, selecionei 10 capas ao longo desses 45 anos de existência da Vogue no Brasil, para serem analisadas a partir das teorias da Semiótica da Cultura de Iuri Lotman e a da História e Memória. A partir de um levantamento dos principais momentos históricos, foi observado que as capas da Vogue representam, através de cores, mulheres, roupas e design, valores e pensamentos marcantes de cada momento histórico. Ou seja, foi possível fazer uma leitura das mudanças no universo da moda e no mundo, por meio da revista de moda.

Das capas analisadas, quais refletem essas transformações?

Do meu ponto de vista, a primeira capa da Vogue Brasil e a última analisada no ano de 2020. A capa estrelada por Betsy Monteiro, demonstra que naquele período os ideais que prevaleciam eram mais conservadores, tradicionais e voltados para a mulher mais comportada, recatada e do lar. Essas características são observadas na socialite: semblante mais leve e pouco expressivo, com uma maquiagem mais delicada e menos marcada, que remete a elegância e a doçura. Outro detalhe é o fato de ser mostrado apenas o rosto de Betsy, com o pescoço coberto por um lenço, reforçando um estereótipo da figura feminina mais reservada e discreta, valores e princípios muito comuns naquela época em que o Brasil passava por uma ditadura militar.


Quando comparamos com a última capa analisada, observamos que o seu objetivo não é passar informação de moda para o público, mensagens de esperança em meio aos tristes acontecimentos trazidos pela pandemia da Covid-19. Se analisarmos mais profundamente, todas as características dessa capa abordam temas atuais: a escolha por colocar uma mulher indígena na capa, representando a essência do Brasil, e o fato de ela ser uma enfermeira, tendo total relação com o contexto em que a área da saúde está em mais evidência.


Por isso, conseguimos observar essas transformações de pensamentos e valores, a partir dessas capas que possuem 45 anos de diferença. Uma capa vangloria a Europa, a mulher branca, rica e recatada - assuntos muito em alta na época. Já a última representa a diversidade brasileira e exalta aqueles que deram origem ao Brasil: os povos indígenas, mostrando que toda a esperança do futuro do nosso país e do mundo, estão na conexão do homem com a natureza, com a sua essência.


Quais conselhos você daria para aqueles que pensam em construir uma carreira dentro do mercado de jornalismo de moda?


Dentro da universidade de comunicação, a moda ainda é uma área pouco explorada. Infelizmente ainda existe um certo preconceito das pessoas em relação a esse tema, do qual eu mesma vivenciei durante o meu curso. Por isso, meu conselho é: invista em cursos e pesquisas que vão além do seu dia a dia na faculdade. Busque se informar e melhorar o seu conhecimento sobre a moda. Mesmo com pouca experiência, tive a oportunidade de começar a minha carreira profissional na área que eu sempre sonhei, isso se deve a muito esforço, dedicação e interesse. No meu dia a dia descobri os desafios que essa área proporciona e que ela não é tão glamourizada quanto eu pensava. Você precisará lidar com questões burocráticas, relacionamento complexos entre empresa e agências, ter muita agilidade e não se apegar tanto a planejamento e rotina. Mesmo tendo que lidar com assuntos que, em algumas situações, fogem do nosso entendimento, tudo é uma construção de aperfeiçoamento das suas habilidades, te levando a se tornar o profissional que deseja. A trajetória que tenho trilhado no meu trabalho me faz acreditar que estou no caminho certo.


Para conhecer mais sobre o trabalho realizado pela Lívia, acesse sua página no IG clicando aqui!








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